A cerca de 48 horas do final da conferência do clima, as notícias continuam a não ser boas. O Japão insiste em não aceitar um segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto onde novas metas seriam fixadas para os países aderentes para 2020. Ao mesmo tempo, em várias frentes, os EUA têm bloqueado ou atrasado várias matérias, principalmente no que respeita à adaptação e financiamento.
A única boa notícia vem dos Estados Pequenas Ilhas (AOSIS) que em princípio terão conseguido voltar a introduzir num dos novos textos disponíveis desde esta manhã de quarta-feira, a possibilidade de se contemplar um esforço para que o aumento máximo da temperatura devido às alterações climáticas seja de 1,5 ºC e não de 2 ºC face às novas evidências científicas. Não será uma opção facilmente aceitável pelos restantes países, mas depois de ter desaparecido do texto negocial, esta é uma pequena vitória.
No entretanto, o episódio de bloqueio que se passou à um ano em Copenhaga pode aqui voltar a ter lugar com a Bolívia a fazer essa ameaça se não houver acordo relativamente à continuação de Quioto com um segundo período de compromisso finalizado desde já, o que se sabe ser politicamente impossível (é desejável fazê-lo, mas prometendo-se concretizar essa intenção em Durban, na África do Sul, dentro de um ano).
A União Europeia, cuja acção mediadora é louvável, apresenta uma grande fragilidade interna e uma ambição bem limitada. O México, como país que preside à Conferência, tenta agora discussões informais em pequenos grupos. Mas o tempo já se começa a esgotar…
A Vila do Clima é o terceiro local oficial da COP16. Trata-se de um recinto onde o Governo mexicano tentou arrumar parte da sociedade civil que não cabia no Cancunmesse. O objectivo parece ter falhado a vários níveis, já que muitas organizações, sobretudo indígenas, escolheram outro local no centro de Cancún para instalar arraiais.
Na Vila das Alterações Climáticas ficaram os expositores institucionais, empresas ‘verdes’ e os patrocinadores. O espaço alberga ainda um local para conferências paralelas, como o Fórum da Juventude para as Alterações Climáticas, de que já demos conta e algumas exposições, sobretudo de educação ambiental.
A maior atracção são as extraordinárias fotografias de Willy Sousa, o fotógrafo responsável pelo projecto “México en tus sentidos”. A exposição já passou por vários países, dos Estados Unidos à China, e já terá sido vista por 10 milhões de pessoas. O fotógrafo apresenta de forma exemplar as várias formas de ser mexicano, embora deixe de fora alguns aspectos mais negativos, como a violência presente em alguns sectores da sociedade.
Infelizmente, à parte das constantes visitas de estudo das escolas, o recinto é pouco procurado pelos participantes na COP. No dia em que a Quercus visitou a Vila, nas viagens de cerca de uma hora de ida e volta, o autocarro reservado da organização da COP apenas transportou o elemento da Quercus. Segundo explicaram os motoristas, a Vila só ganha realmente vida ao final do dia, quando sobem ao palco principal os vários artistas mexicanos que conseguem atrair os moradores das redondezas.
A sociedade civil mexicana, ou pelo menos parte dela, ficou de fora da COP. Nos espaços da Cancunmesse e no hotel Moon Palace só é possível entrar depois de credenciado e da vistoria de segurança, que curiosamente é feita não por polícias mas por jovens mexicanos.
A alternativa são as ruas da cidade de Cancún e parte da estrada até à zona do aeroporto. Tudo o resto, da cidade até à zona hoteleira, e do aeroporto até aos dois locais da COP está interdito a protestos. Para o garantir, o Governo mexicano tem em curso uma mega operação de segurança que envolve meios locais, a Polícia Federal e o exército.
Além das barreiras policiais a cada dezena de quilómetros, há pontos estratégicos com segurança reforçada. Entre a Vila das Alterações Climáticas e a Cancunmesse, por exemplo, há um posto de controlo permanente com militares em jipes equipados com metralhadoras pesadas, dezenas de polícias de choque e alguns blindados discretamente escondidos sob lonas brancas e amarelas numa segunda linha.
No Moon Palace a segurança é partilhada com a polícia das Nações Unidas. Aqui já ocorreram protestos, mas só de ambientalistas devidamente credenciados com os seus passes amarelos, como os índios do Canadá que se manifestaram contra os efeitos da exploração de combustíveis fósseis naquele país, nomeadamente das areias betuminosas da província de Alberta, ou os jovens da 'Time For Climate Justice', que pedem que o novo fundo climático seja gerido pena ONU.
No Cancunmesse também são realizadas iniciativas que valem mais pelo simbolismo e mediatismo do que pelo efeito directo sobre os delegados. O único protesto que consegue passar todas as barreiras e manter-se ao longo da cimeira é o outdoor do Greenpeace contra a exploração de petróleo no Golfo do México, mensagem colocada estrategicamente na estrada entre a Cancunmesse e o hotel onde decorre a COP16.
Vídeo do fotógrafo Willy Sousa apresentado esta tarda na abertura do segmento de alto-nível da COP16, em Cancún.